
A discussão se assemelha a “Marvel ou DC”, “biscoito ou bolacha”, “Friends ou How I Met Yout Mother”. Escolha seu lado e defenda-o! Se diz ver a parte boa nos dois está em cima do muro, desculpe, mas pode ir embora. Ou fica e escolhe logo um lado, senta e lê a lista com os mandamentos. E bora argumentar, entra aí na discussão do facebook.
Em um 2017 com gente batendo continência e dizendo amém sem saber a quem, a liberdade de expressão é confundida com discurso de ódio e a distorção de um termo leva caras para falar o ódio para uma população que vai disseminar esse ódio – “mas não é a minha liberdade de falar?”, interrompem. E antes da resposta já apontam e repetem “não, não, não”. Claro, disfarçando de liberdade de expressão.
Uma exposição fecha por falta de interpretação, uma peça é cancelada porque onde já se viu um Jesus trans, proposta de reorientação sexual é feita, vídeo vaza e museu é acusado de pedofilia, e a exposição cancelada anteriormente é vetada em outra cidade com base em acusação falsa; e a discussão fica em torno de querer fechar museu. Enquanto a pedofilia acontece na cidade governada por esse prefeito, ele está mais interessado em fazer vídeo vetando exposição sem fundamento por trás da decisão, pra ganhar fama de moço defensor da família.
O contexto é levado embora, pra bem longe. E sem o contexto a censura começa, a acusação começa. As pessoas engolem a informação pronta, junto com a opinião escrita na lista dos mandamentos. Grupos ganham força através de polêmica que nem existe, que eles criam. A falsa polêmica, baseada em falsas verdades, vira notícia em página de Facebook que decide brincar de ser jornal. Então o argumento sem fundamento se torna fato para o brasileiro sem acesso a cultura, que nunca foi em um museu.
Os lados aparecem e brigam fervorosamente. São argumentos enormes, textos lindos de serem lidos, cheios de expressões bonitas e moralismo. Ambos tentando mostrar a perspectiva, mas sem olhar a do outro. Ninguém procura checar os fatos, só seguir as regrinhas da lista pra ganhar a discussão nos comentários do facebook sem passar por hipócrita.
Enquanto isso, algumas reportagens mostram a realidade, os pontos de vista e a situação dentro da legislação. Os argumentos com fundamento se perdem no mar de ideologia barata vendida por grupos tendenciosos. E no mundo real o contexto vai embora, levando a arte junto de si.