Saúde é política: sobre as consequências do preço do gás

Esta frase, tema do 15º Congresso Paulista de Saúde Pública, talvez fizesse pouco sentido para mim há algum tempo. Hoje, trabalhando em um hospital da periferia da cidade, vejo muito de perto os efeitos de decisões políticas na saúde das pessoas.

Não se trata apenas de financiamento, construção de novos equipamentos ou liberação de medicamentos. Trata-se, por exemplo, do aumento do preço do gás. Com valores inacessíveis por uma parcela cada vez maior da população, as pessoas buscam alternativas como cozinhar em fogareiros improvisados, usar álcool, comprar botijões clandestinos mais baratos.

A consequência?

Explosões, mortes e aumento no número de pessoas queimadas em busca de atendimento nas unidades de saúde (1).

Trata-se também das alterações no limite de velocidade das marginais – o limite menor diminuiu as mortes, o aumento do limite… aumentou as mortes (2).

No Pronto-Socorro são cada vez mais frequentes as tentativas de suicídio e os relatos de abuso de álcool e drogas associados a desemprego recente, perda da casa e outras dificuldades decorrentes da dita crise econômica (3 e 4).

Os exemplos são muitos. De dentro do hospital, a sensação às vezes é de “enxugar gelo”. A produção de saúde está fora do âmbito exclusivo da saúde; depende também de intervenções que melhorem as condições de vida das pessoas.

E fica o questionamento diário: para além do atendimento na situação de crise, o que nós que nos identificamos como profissional de saúde podemos fazer?

(1) http://www1.folha.uol.com.br/…/1942850-com-disparada-do-pre…

(2) http://www1.folha.uol.com.br/…/1940174-acidentes-com-mortes…

(3) http://www1.folha.uol.com.br/…/1794758-estudos-identificam-…

(4) http://agenciabrasil.ebc.com.br/…/crise-economica-desempreg…

Com disparada do preço do gás, Recife vive onda de queimados Os reajustes sucessivos no preço do gás de cozinha têm provocado o aumento de pacientes com queimaduras graves na maior emergência do Nordeste. WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR

Flavia Fragoso

Flávia Gragoso tem 29 anos e é formada em Psicologia na USP em 2010 e trabalha na área da saúde.

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