Quando o Twitter começou a se popularizar no Brasil, por volta de 2007 e 2008, era comum encontrar sites e perfis que prometiam trazer mais seguidores.
Com o tempo, a rede social aprimorou seu rastreamento e passou a banir usuários que recorriam a essa prática. Não demorou para que os próprios usuários caíssem na real: afinal, de que adiantava um bom volume de seguidores se os tweets não causavam nenhum tipo de engajamento?
O predomínio de redes sociais como Facebook e Instagram fez com que a maioria dos usuários do Twitter que recorreram à prática de conquistar seguidores por vias ilegais deixassem seus perfis de lado.
Mas a prática de obter seguidores massivos, como se fosse um truque de mágica, não foi abandonada. Ela foi aprimorada.
Uma reportagem do The New York Times revelou que tais práticas envolvem dinheiro. Noutras palavras, tem usuários do Twitter comprando seguidores – por milhares de dólares. Tudo por intermédio de uma empresa chamada Devumi, que promete “acelerar seu crescimento nas redes sociais”.
Bots de perfis falsos
Segundo o jornal norte-americano, a Devumi trabalha com bots no Twitter baseados em perfis reais.
Funciona da seguinte maneira: eles pegam um perfil aleatório, com poucos seguidores, e criam novas ‘identidades’ com leve alteração na imagem e mudanças quase imperceptíveis no perfil do usuário.
Por exemplo, o perfil @iwanttobejes, com pouco mais de 31 seguidores, ao ser captado pelo bot, vira @lwanttobejes – ou seja fica o “l” (ele) minúsculo, no lugar do “i” minúsculo.
Assim, esse bot passa a atuar em função da empresa: sempre que algum interessado quiser comprar mais seguidores pelo Twitter, pode contar com perfis fakes como @lwanttobejes na sua extensa lista de seguidores.
Esses perfis costumam dar retweets em páginas com conteúdo em árabe ou de conteúdo pornográfico, dentro de um processo automatizado em que conquista seguidores que também são bots.
O fake @lwanttobejes, por exemplo, tem mais seguidores que a original @iwanttobejes. Mas, o que impressiona é a quantidade de pessoas que o fake segue: ultrapassa dos 5 mil usuários – muitos deles, clientes da Devumi.
“Estas contas fake pegam emprestadas identidades sociais de usuários do Twitter em cada estado norte-americano e dezenas de outros países, incluindo adultos e menores, usuários bem ativos e usuários que não fazem login em suas contas por meses ou anos”, revela o jornal.
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Famosos compram seguidores no Twitter
Muitos famosos contrataram os serviços da Devumi para comprar seguidores pelo Twitter. Os atores Ryan Hurst (da série Sons of Anarchy) e Katie Lowes (Scandal), o músico DJ Snake, o nadador olímpico Adam Peaty e até o bilionário dono da empresa Dell, Michael Dell, são alguns deles.
De acordo com o jornal, a maioria dos clientes da Devumi estão cientes de que estão comprando bots como seguidores porque dependem da influência das redes sociais.
A procura é tão grande, que a empresa já comercializou dezenas de milhares de ‘serviços’ deste tipo – criando, inclusive, uma cadeia, já que muitas empresas que dizem trabalhar com marketing adquiriram esses bots da Devumi prometendo ‘impulsionar as redes sociais’ de clientes que não estão cientes dessa prática.
Além de garantir mais seguidores, os clientes da Devumi também contam com toda impulsão dos bots: mais curtidas, mais retweets, mais engajamento.
É um esquema sofisticado, que também promete mais visualizações no YouTube, de acordo com o site oficial da Devumi.
O NY Times usou como exemplo o perfil de Michael Symon, um chef da rede Food Network. Ele, que tem quase 1 milhão de seguidores no Twitter, contratou os serviços da Devumi em duas ocasiões: a primeira, em setembro de 2014, lhe garantiu 100 mil seguidores; a segunda, em novembro de 2015, somou mais 500 mil seguidores.
Devumi e seu CEO
Ao investigar a situação social da empresa Devumi, o jornal descobriu que o espaço que alugaram em um prédio em Manhattan (Nova York) não aparece listado como alugado pelo proprietário.
O CEO da empresa, German Calas, 27 anos, nega que sua empresa venda seguidores nas redes sociais. Muitas informações sobre sua carreira profissional, inclusive, são falsas. Ele diz ter feito um curso no Massachussets Institute of Technology (M.I.T.) que não existiu, por exemplo.
Nem mesmo os bots com o qual trabalha são criações da empresa de Calas. Aparentemente, são comprados por empresas de outros países, tanto que há registros de algumas transações dele diretamente nas Filipinas.
Segundo o NY Times, a Devumi vendeu mais de 200 milhões de bots do Twitter para, pelo menos, 39 mil clientes, gerando mais de US$ 6 milhões.
O Twitter prometeu investigar e excluir todos esses bots – disse que, de dezembro de 2016 pra cá, mais de 6 milhões de contas identificadas como bots foram excluídas por semana. Nessa limpa toda, inclusive, a rede social excluiu o perfil de German Calas.
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