Como mitigar o problema da desinformação no Brasil (mas não acabar com ele)

Mulherada fofocando desde muito tempo.

A polvorosa sobre as notícias falsas continua no Brasil. Relatos da última reunião que o TSE fez pra receber opiniões sobre o que fazer durante as eleições me dão conta de que as possíveis saídas continuam rasas e esdrúxulas, como se a distribuição de notícias falsas fosse algo que dá pra resolver com meia dúzia de portarias e soltar a pol na internet.

É preciso enxergar o problema sob um ponto de vista mais inteligente.

Primeiro porque é impossível ACABAR com notícias falsas. Aliás, essa coisa de notícia falsa, a gente precisa lembrar sempre, inclui BOATO, FOFOCA e MALEDICÊNCIA. Em todas essas categorias, há um limite saudável de difusão que faz parte do discurso. Grace Mutung’u, afiliada ao Berkman Klein Center em Harvard e Open Technology Fund pesquisando eleições na África mostra, em palestra dada ano passado, que as notícias falsas colocaram o assunto das eleições em pauta, provocando inclusive o aumento das discussões saudáveis durante o período pré-eleições. (Vídeo ao final do texto)

Segundo, não existe momento melhor pras autoridades tentarem censurar conteúdo na Internet do que durante as eleições. Lembrando que o Brasil está instável, com uma ameaça de intervenção ampla no país, e não é hora pra dar mais espaço pra militares nem autoridades policiais.

Tendo em vista que a solucão pra campanhas de desinformacão (é assim que chama, e não “fake news”) não vai se dar a curto prazo, vou de novo citar algumas soluções que podem mitigar o problema.

1- Criar um pacote mínimo de acesso gratis forevah pra toda a populacão, acabando com os acessos privilegiados ao Facebook e ao Whatsapp. Em outras palavras, usar o Marco Civil pra coibir zero rating com forca.
Porque?
Porque o país vive de plano pré-pago, e esses planos oferecem Whatsapp e Facebook, mas não oferecem acesso à fontes originais, por exemplo, nem a sites que contenham informações para consulta, como sites de Ministérios, Wikipedia, sites escolares, livros online, etc.

2- Criar um cadastro único para bots de utilidade pública, com informações sobre quem é o responsável pelo bot, se tem data de expiração… Etc. Essa solução eu já postei no Jota, junto com Danilo Doneda, e o Teógenes Moura chegou a fazer um protótipo aqui.
Porque?
O recurso de automatizar o envio de informação, ou intermediar interações por meio de automatização é muito poderoso. Não dá pra “proibir bots” sem jogar fora o bebê com a bacia. Bots de veículos sérios de notícia podem inclusive suplantar bots que espalham fake news, equilibrando o ecossistema. Além disso, o eleitor poderia interagir com bots legítimos, criando assim fontes confiáveis de informacão.

3- Trazer de volta a discussão da regulamentacão da mídia. Se vamos passar mais um tempo ignorando o tema, deveríamos ao menos conversar sobre monopólio econômico de plataformas e mídias, e estabelecer regras e normas pra que TVs, Redes sociais e veículos de mídia distribuam conteúdo educativo em parte de suas “exibicões.
Porque?
Porque a gente vê MUITA bobagem no facebook, na TV, rádio e veículos de notícia. Às vezes não porque queremos, mas porque notícias ou conteúdo exacerbado rendem cliques e assim acabamos sendo expostos à essas barbaridades, e não à conteúdo que seja mais educativo ou informativo. Não que eu queira censurar vídeos de animais fofos sendo carregados pelas suas mães, mas algoritmos deveriam dar uma chance para conteúdos advindos de fontes fidedignas, explicando coisas que são importantes pra população — por exemplo vídeos de campanhas informativas sobre vacinas, ou até aulas explicando que a terra é redonda. Não dá pra deixar as plataformas oferecerem conteúdos baseadas apenas em critérios econômicos, apesar deu amar vídeos de acidente de carros na Rússia.

4- Investir em inovação na mídia. Criar uma linha de crédito no BNDES com baixissimos juros para pequenos e médios veículos de notícias online.
porque?
Porque notícia bem apurada, com base em dados de fontes oficiais, ou formadores de opinião melhores do que o Alexandre Frota são caros. Assim como plataformas online com capacidade de oferecer conteúdos complexos em formatos simples e bem explicados são raríssimos, e eu poderia contar nas mãos os veículos que atendem a esses requisitos no Brasil.

Infelizmente, hoje vou ficar só nessas quatro sugestões, já que desinformacão não é meu campo de pesquisa e me dá uma tristeza imensa ver esse bando de politicagem superficial discutindo um tema a uma distância tão grande de quem realmente usa a internet pra se informar (o povo?). Como estou completamente sem paciência — até porque eu sei que o Facebook vai mostrar esse artigo provavelmente só pra uns 25% da minha timeline, nem todo mundo está no Twitter, e o zap da minha família está em crise; não vou me estender. Vou ficar comendo pipoca feito o Michael Jackson zumbi, assistindo os verdadeiros zumbis da nossa politica inventarem mil e uma maneiras de censurar a nossa já tão SURRADA liberdade de expressão.

Putos.

Por yaso

Research Fellow at Digital Harvard Kennedy School ★ Berkman Klein Center affiliate ★former #SerenatadeAmor ★ I like to redesign old structures

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