Liberar a caça de animais silvestres não é a solução para o problema dos Javalis no País
Nos últimos dias, muito se falou na internet sobre a liberação da caça de animais silvestres para resolver o problema do aumento da população de Javalis.
Teve vídeo de apoiador do candidato à presidência, vídeo posterior do mesmo dizendo que o primeiro foi “editado”, e, ao mesmo tempo, deputado com projeto para liberar a caça de animais silvestres no País – não apenas de Javalis.
Todos os fatos geraram uma grande confusão na internet. E pouco se falou sobre um problema maior: a extinção de espécies que exitem somente no Brasil.
Segundo dados do IBAMA, o javali “é classificado como uma das cem piores espécies exóticas invasoras do mundo pela União Internacional de Conservação da Natureza”, sendo urgente seu manejo e controle (bem como do híbrido javaporco, resultado do cruzamento do javali com os porcos domésticos).
Porém, sabendo da gravidade da situação, ainda segundo o IBAMA, “em razão do aumento de sua distribuição pelo território nacional e da crescente ameaça ao ecossistema, o controle da espécie foi autorizado pelo Ibama em 2013, de acordo com regras estabelecidas pela Instrução Normativa N° 03/2013. Espécies exóticas invasoras são consideradas a segunda maior causa de perda da biodiversidade em escala global e representam um desafio para a conservação dos recursos naturais” (leia na íntegra aqui).
Portanto, o abate de Javalis e Javaporcos já é liberado desde 2013. E você pode obter mais informações sobre o discurso do candidato à presidência relacionado com este tema aqui.
Brasil tem nota “C” em proteção aos animais silvestres. Ainda tem muito a melhorar
O Brasil é conhecido pela diversidade da sua fauna e flora. E com o baixo investimento em ciência no País, universidades e pesquisadores estrangeiros se aventuram pela mata brasileira para ajudar a estudar a biodiversidade das nossas terras. Com o avanço da exploração extrativista, mais animais silvestres desaparecem. E desaparecem para sempre.
Leia “Amazônia – Área cobiçada”
A Associação World Animal Protection criou uma mapa interativo com informações de 50 países sobre a proteção de sua fauna. O Brasil já não está em uma boa posição (C), apesar de estar à frente de outras nações como os Estados Unidos, por exemplo.
Mesmo assim, ainda temos diversas espécies em risco de extinção. Muitas somente pelo avanço da exploração de madeira, agropecuária, contrabando e claro: caça ilegal.
Conheça alguns dos animais do Brasil que estão ameaçados de extinção:
Ararajuba
A ararajuba (Guaruba guaruba), também conhecida como Guaruba, é uma ave verde e amarela, que existe somente na Amazônia e vem sofrendo com o tráfico e o desmatamento do bioma.
Pouco se sabe sobre os hábitos da ararajuba, o que dificulta a sua conservação. Atualmente, é classificada como vulnerável à extinção.
Arara-azul
A arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é encontrada nos biomas Amazônia e Pantanal. Essa espécie enfrenta problemas como o tráfico de animais, caça ilegal e o desmatamento de seu habitat. É muito cobiçada por caçadores pois as suas penas possuem grande valor no mercado internacional.
Outra espécie, a arara-azul-de-lear, habita o nordeste da Bahia e estima-se que haja apenas 228 animais em idade reprodutiva.
Ariranha
A ariranha (Pteronura brasiliensis), também conhecida como lobo do rio ou lontra gigante, encontrada no Pantanal e Amazônia é outra espécie ameaçada de extinção.
A pesca predatória, caça ilegal e a poluição dos rios, principalmente a contaminação por mercúrio, são as maiores ameaças para a conservação da espécie.
Conheça sobre Animais em Extinção na Floresta Amazônica.
Baleia-franca-do-sul
A baleia-franco-do sul (Eubalaena australis), também conhecida como baleia-franca-austral, é encontrada no litoral brasileiro. Ela vem sofrendo com a caça, pesca, bem como a poluição das águas.
Na época de ter os filhotes, as mães buscam águas mais quentes e rasas para darem à luz. É considerada em perigo de extinção.
Cervo-do-Pantanal
O cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) é o maior cervídeo da América da Sul. Além de ser encontrado no Pantanal, esta espécie vive também nos biomas Amazônia e Cerrado.
O desmatamento e a caça ilegal são ameaças, além da construção de hidrelétricas na bacia do Rio Paraná. Estas têm contribuído para a grande redução da espécie, classificando-a como vulnerável.
Gato-maracajá
O gato-maracajá (Leopardus wiedii) sofreu durante décadas com a caça para a venda de sua pele. Ele é encontrado nos biomas Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
Atualmente, o desmatamento é o maior problema enfrentado pela espécie uma vez que causou a destruição de seu habitat natural, tornando-se vulnerável à extinção.
Lobo-guará
O Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus) é encontrado no Cerrado, no Pantanal e nos Pampas. Esse animal é considerado o maior mamífero canídeo nativo da América do Sul.
A espécie enfrenta grandes problemas devido ao desmatamento de seu habitat e encontra-se vulnerável à extinção.
Macaco-aranha
O macaco-aranha (Ateles geoffroyi) é encontrado principalmente na Amazônia. Entre as ameaças a sua conservação estão a destruição de seu habitat, a caça ilegal e o tráfico de animais.
O Ateles chamek, conhecido como macaco-aranha-de-cara-preta, tem ampla distribuição mas sofre com a construção de hidrelétricas, rodovias e linhas de transmissão. (Espécies vulneráveis)
Mico-leão-dourado
O mico-leão-dourado habita a Mata Atlântica e sofreu durante décadas com o desmatamento e o tráfico de animais, o que resultou na eliminação quase total da espécie. Hoje, os poucos indivíduos que existem são restritos aos remanescentes de florestas do estado do Rio de Janeiro.
Com o apoio de projetos nas unidades de conservação onde se encontra, a situação tende a melhorar. Porém, a espécie é classificada como em perigo de extinção.
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Muriqui-do-norte
O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) é o maior primata das Américas, sendo encontrado somente na Mata Atlântica. A espécie sofre com o desmatamento da região e a caça ilegal e indiscriminada.
A espécie é classificada como criticamente ameaçada de extinção.
Onça-Pintada
A onça-pintada (Panthera onca) é considerada o maior felino das Américas, a onça-pintada é encontrada em quase todos os biomas brasileiros, com exceção do Pampa, onde já foi extinta.
A onça é caçada por fazendeiros para proteger seus rebanhos, além disso, sofre com a destruição do seu habitat e sua pele tem grande valor no mercado mundial. A espécie é considerada vulnerável à extinção.
Saíra-militar
O saíra-militar (Tangara cyanocephala) é encontrado na Mata Atlântica. Essa ave possui cores fortes e o grande problema enfrentado é o desmatamento das regiões e o tráfico de espécies.
A espécie é classificada como vulnerável à extinção.
Sapo-folha
O sapo-foha (Proceratophrys boiei) é uma espécie endêmica do Brasil, descrito cientificamente há pouco tempo, em 2010, e já se encontra em perigo de desaparecer. Ele foi descoberto na Serra do Timbó, no estado da Bahia.
A espécie sofre com o desmatamento do seu habitat por causa do cultivo de cacau, banana e das pastagens. Atualmente, encontra-se como criticamente ameaçada de extinção.
Soldadinho-do-araripe
O soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) é uma ave que vive na caatinga, em área restrita da Chapada do Araripe, no Ceará.
Ela vem sofrendo com o problema do desmatamento da região, provocado pela criação de gado, monoculturas e o crescimento desordenado das cidades. A espécie é classificada como criticamente ameaçada de extinção.
Tamanduá-bandeira
O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) é encontrado nos biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.
O tamanduá-bandeira vem sofrendo com desmatamento e queimadas das regiões destinadas às plantações ou criação de gado. Assim, encontra-se como vulnerável à extinção.
Tartaruga-de-couro
A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) é considerada a maior espécie de tartaruga marinha do mundo.
Ela é encontrada em oceanos tropicais e temperados. No Brasil, a desova regular acontece no litoral norte do Espírito Santo.
O consumo dos ovos e abate das fêmeas foi muito comum no passado e suas características reprodutivas contribuem para colocar a conservação da espécie em situação crítica. Além disso, em alguns países o consumo da carne e do óleo desse animal é legalizado.
A espécie é classificada como criticamente ameaçada de extinção.
Tartaruga-oliva
A tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) é uma espécie altamente migratória, que desova principalmente entre o litoral sul de Alagoas e norte da Bahia.
Assim como a tartaruga-de-couro, ela também sofria com a coleta dos ovos e abate no período da desova, o que tem diminuído por conta de muitos projetos conservacionistas.
Porém, a espécie ainda enfrenta problemas como a caça ilegal, pesca acidental e a poluição das águas. A espécie encontra-se em perigo de extinção.
Uacari-branco
O uacari-branco (Cacajao calvus) é encontrado na Amazônia e sua principal característica física é sua cara vermelha.
O desmatamento da região e a caça, já que habita terras indígenas dos Yanomamis, são os fatores que afetam a sobrevivência da espécie. Assim, a espécie encontra-se vulnerável à extinção.
Udu-de-coroa-azul
O udu-de-coroa-azul (Momotus momota) é encontrado nos biomas da Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica. Essa ave multicolorida vem enfrentando problemas com a perda de seu habitat por causa do desmatamentos das regiões. A espécie em perigo de extinção.
Estes são apenas alguns dos animais ameaçados no Brasil, existem animais em risco de extinção no mundo.
Principais causas da extinção de espécies no Brasil
Muitas são as causas do desaparecimento das espécies, das quais destacam-se:
- Tráfico de animais
- Desmatamento
- Queimadas
- Construção de hidrelétricas
- Caça predatória
- Poluição
Tais fatores afetam diretamente os animais ou o seu habitat, reduzindo suas chances de sobrevivência.
Segundo estudos, o Brasil lidera o ranking de espécies de aves em extinção,sendo a Indonésia o segundo país.
A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), criou em 1963, um inventário para sistematizar o estado de conservação das espécies biológicas ameaçadas. Na lista estão animais, plantas, fungos e protistas.
Dessa maneira, a “Lista Vermelha da IUCN” (IUCN Red List), como é conhecida, divide-se em três grandes categorias compostas de outras subcategorias:
- Extinto: extinto, extinto da natureza;
- Ameaçada: criticamente em perigo, em perigo, vulnerável;
- Baixo risco: dependente de conservação, quase ameaçada, pouco preocupante.
O Instituto Chico Mendes (ICMBio) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgaram em 2014 uma lista sobre a situação do Brasil. No país, existem 1173 espécies animais em risco de extinção, além dos que já foram extintos, como a arara-azul-pequena e o minhocuçu.
Tem existido nos últimos anos uma maior preocupação com os temas ambientais. Por isso, a legislação ambiental brasileira tem realizado alguns avanços, mas na prática ainda existem problemas de fiscalização.
Até o momento desta publicação, a consulta pública mostrou um resultado desfavorável de 98% ao Projeto que Regulamente a caça no Brasil (PL 6268/2016).
Quer ajudar a impedir a evolução desse projeto na Câmara dos Deputados? Acesse aqui a consulta pública referente a essa medida e vote em DISCORDO. Vamos exercer (e fazer valer) a nossa cidadania.
Por Gustavo Santi com reprodução original de Lana Magalhães – Professora de Biologia e Mario Feitosa – do Covil da Discordia.
Fontes e referências:
– The 2018 Environmental Performance Index: https://epi.envirocenter.yale.edu/
– Conheça o “Top 10” dos países mais sustentáveis do mundo: https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2016/01/conheca-o-top-10-dos-paises-mais-sustentaveis-do-mundo.html
– Amazônia – Área Cobiçada: http://bit.ly/2Lmy3ms
– Animais em extinção no Brasil: http://www.greennation.com.br/dica/animais-em-extincao-no-brasil/4586
– Combater javali é a motivação de Bolsonaro para a caça?: http://www.covildadiscordia.com.br/bolsonaro-combater-javali/www.covildadiscordia.com.br/bolsonaro-combater-javali/
– PL 6268/2016 Inteiro teor Projeto de Lei: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2113552
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