
Para entender os efeitos potenciais de uma presidência de Sanders no Brasil, pode ser instrutivo examinar um momento diferente em que um presidente dos EUA chegou ao poder chamando os abusos autoritários de autoridades latino-americanas.
Há cerca de quatro décadas, a presidência de Jimmy Carter, por mais moderada que tenha sido, conseguiu minar a confiança da ditadura militar brasileira, apoiada por todos os presidentes dos EUA desde o golpe de 1964. Mas as tentativas de Carter de reinar nos abusos autoritários de homens fortes latino-americanos foram limitadas por sua falta de vontade de desafiar noções mais amplas do imperialismo americano e ortodoxia econômica.
Em outras palavras, o neoliberalismo desmobilizador que se tornaria tão identificado com o sucessor de Carter, Ronald Reagan, e que decepcionou qualquer esquerdista brasileiro que esperava uma mudança significativa após os horrores de Nixon e Kissinger, pode ser explicado dando um passo mais para trás. O fracasso de Carter em conectar sua nova abordagem supostamente ousada aos assuntos estrangeiros com uma nova visão econômica minou sua capacidade de refazer verdadeiramente o paradigma da diplomacia internacional. Aí reside a diferença crucial entre o legado de Carter e a abordagem que Bernie Sanders estabeleceu.
Sanders assumirá o cargo em conflito direto com Bolsonaro, a quem ele considera parte de “um novo eixo autoritário”. Após a eleição de Bolsonaro, Sanders argumentou que “nosso trabalho é combater o autoritarismo e construir um movimento de pessoas que acreditam na democracia. ”Essa dificilmente é a linguagem da mudança de regime de cima para baixo, refletindo uma crença na mobilização popular de base que conecta pessoas comuns nos Estados Unidos, Brasil e em todo o mundo.
“Devemos prestar atenção a isso: o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, um autoritário de extrema direita, está destruindo a floresta amazônica rapidamente. Ele é uma ameaça para os trabalhadores, minorias, jornalistas e um planeta habitável. Não é de se estranhar que Trump o ame tanto”, escreveu Sanders.
“Nós usaríamos de todas as ferramentas à nossa disposição para tentar assegurar a interrupção das queimadas na Amazônia e, na verdade, assegurar um trabalho com o mundo inteiro para avançar na proteção do planeta”, afirmou.
O democrata já havia afirmado que há um desejo econômico na devastação da Amazônia, quando disse que “Bolsonaro e seus companheiros corporativos estão queimando a Floresta Amazônica por lucro pessoal e colocando em risco a sobrevivência de nosso planeta”. (…)
Grande Midia contra Bernie Sanders #BernieBlackOut
Enquanto Bernie Sanders segue com sua campanha totalmente financiada pela população, ou seja, único candidato a concorrer sem doações de bilionários, a mídia corporativa dos Estados Unidos segue noticiando resultados de pesquisas e arrecadações sem mencionar o nome de Sanders ou simplesmente ocultando números importantes de sua campanha.
Jornalistas, profissionais de mídia e comunicação dos Estados Unidos e ativistas chamam este fenômeno de #BernieBlackOut (Apagão do Bernie Sanders) que se refere a tentativa descarada da mídia de esconder o nome do candidato entre as notícias publicadas diariamente sobre a corrida presidencial.
No dia 1 de Janeiro de 2020, Bernie atingiu a marca de 5 milhões de doadores únicos para a sua campanha. Um recorde histórico para as eleições de um presidente dos Estados Unidos da América.
Com a estratégia de ignorar a existência do candidato Bernie Sanders da grande mídia, especialistas dizem que o “Apagão do Bernie” pode, na realidade, ajudar para que o candidato seja nomeado para o partido democrata. Os constantes ataques do Presidente Donald Trump ao jornalismo e grande mídia, abre margem para que as pessoas deem mais credibilidade aos movimentos sociais, sindicatos e jornalismo independente.
O Esquadrão de Bernie | The BernieSquad
Enquanto oponentes do partido democrata e grande mídia atacam a base de voluntários do Bernie Sanders como misóginos, Bernie ganhou apoio das principais figuras que representam não apenas o feminismo mas a diversidade em cargos no legislativo dos Estados Unidos.
Com o apoio da base progressista mais diversa da história nos EUA, Bernie segue seu trabalho como Senador no processo de impeachment de Donald Trump, onde limita seu tempo para que possa estar nas ruas pela sua campanha. Com isso, diversas candidatas (e candidatos) eleitos seguem nos encontros representando Bernie enquanto ele trabalha, como fez Alexandria Ocasio-Cortez no último encontro em IOWA, primeiro estado onde ocorre as eleições para nomeação do candidato para o Partido Democrata.
Para acompanhar as atualizações da campanha em Português, direto de voluntários baseados nos Estados Unidos, siga o perfil @brazil4bernie no Twitter ou faça parte dos debates no grupo do Telegram: https://t.me/brazil4bernie
Por Alice Wakai em colaboração com Gustavo Santi
Fontes e referências:
https://theintercept.com/2019/12/08/the-bernie-blackout-is-in-effect-and-it-could-help-sanders-win/
https://bernie.substack.com/p/bern-notice-the-bernie-surge-and
https://www.conversaafiada.com.br/brasil/sanders-bolsonaro-ve-o-mundo-como-trump
https://www.jacobinmag.com/2019/06/bernie-sanders-jair-bolsonaro-presidency-internationalism
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